
Filho Pródigo
Longe de sua terra natal há sete anos,quando deixou os vocais do Só pra Contrariar e abraçou a carreira solo internacional, Alexandre Pires voltou a Uberlândia para a gravação de um CD/DVD ao vivo no início do ano. Desde então, tem reencontrado lugares e amigos, e vivido novas experiências.
ALEXANDRE, O GRANDE
Sim, ele está de volta.Não, não é definitivo. Alexandre Pires, o pagodeiro de Uberlândia que ultrapassou fronteiras e conquistou renome internacional, celebra mais uma nova fase. Esta, com direito a reencontros, lançamento de CD e DVD ao vivo gravados "Em casa" e perspectiva de construção de uma nova família. Cantor, de 32 anos, conversou aberta e francamente com o Canal Extra numa breve passagem pelo Rio. A fala pausada e mansa de bom mineiro ganhou um leve sotaque ameriacano, resultado dos sete anos morando fora do Brasil. Um charme a mais no currículo desse negro gato...
CANAL EXTRA - Quando e porque você voltou para o Brasil?Esse retorno é definitivo?
ALEXANDRE PIRES - Voltei em janeiro desde ano, para a gravação do CD e DVD "em casa" ao vivo,em Uberlândia.A data foi ótima, 8 de janeiro, meu aniversário,Mas a verdade é que ainda tenho residência lá nos Estados Unidos.Fico no Brasil até junho do ano que vem e aí volto pra lá. Não posso abandonar minha carreira internacional, dar as costas para um povo que me recebeu tão bem.Os latinos e os norte-americanos me cobram muito também.
-NÃO DÁ PARA MORAR AQUI E CONTINUAR TRABALHANDO LÁ FORA?
- Eu tentei duas vezes,e percebi que é impossível.È muito trabalho! Tenho que estar um dia em Porto Rico, uma semana no México, 20 dias nos Estados Unidos, partir para Panamá, Costa Rica, Chile,Venezuela, Argentina,Uruguai... e por aí vai.Tudo, fazendo TV, rádio e shows.È muito trampo! Preciso ter um lugar aqui também, porque chega uma hora em que não dá mais para ficar em hotel,é muito difícil.Fiquei nos assim.
- ALÉM DA GRAVAÇÃO, ALGO MAIS LHE MOTIVOU A VOLTAR PARA SUAS ORIGENS?
- Eu queria retomar minha vida aqui.Confesso que estava muito distante da minha família, com toda aquela euforia de trabalho.Sempre respeitei muito a minha profissão, a música. e numa determida época eu só pensava nisso.Hoje, vejo que posso produzir, trabalhar, mas também preciso curtir os meus,estar mais próximo.Esse retorno a Uberlândia está sendo ótimo.Morei em São Paulo durante 11 anos, gosto de lá, mas não tem lugar melhor do que o meu lugar, a minha casa. Estou muito feliz. Venho redescobrindo coisas, reecontrando amigos, e isso está me fazendo um bem danado.
- O QUE MAIS O SURPEENDEU LÁ FORA?
- A rapidez com que tudo foi acontecendo.Logo que lancei meu primeiro disco internacional, o pessoal assimilou bastante. O legal é que o latino, em geral, se parece muito com o Brasileiro: é receptivo, gosta muito de música e festa, é alegre. O porto- riquenho, então, nem se fala: a comida, o estilo, é um povo muito misturado, como o do Brasil. A carreira internacional me deu a oportunidade de conhecer outros países e de me conhecer um pouco mais também.Estou muito feliz com tudo o que aconteceu nos últimos sete anos.
-NA ÉPOCA QUE FOI MORAR NOS EUA, A IMPRENSA PUBLICOU UM SUPOSTO DESABAFO SEU: "MESMO TENDO VENDINDO DEZ MILHÕES DE DISCOS,NUNCA FOI RECONHECIDO COMO CANTOR NO BRASIL. LÁ FORA AS PESSOAS ME RESPEITAM E FALAM BEM DA MINHA VOZ".HOUVE ESSA MÁGOA?
- Nunca me liguei em números.dizer que vendi dez milhões de discos?e dai? você pode vender até 50 milhões, mas,se não tiver talento, não vai a lugar nenhum. e não ser reconhecido como cantor não conta. Nem eu me acho um bom cantor.Meu sonho nunca foi cantar, eu queria mesmo ser instrumentista.Nunca tive a pretensão de ser "o" cantor, nunca estudei para isso, embora ainda haja tempo.Oque eu realmente acho é que o artista popular no Brasil é muito descriminado,seja ele do samba, do pagode, da música sertaneja, do axé...Lá fora eles respeitam a arte brasileira,seja ela qual for.
- O PRECONCEITO AINDA INCOMODA?
- Nos Estados Unidos, um pís super preconceituoso,é comum ver negros bem-sucedidos, empresários,freqüêntando lugares chiques,bons restaurantes, e até na política, candidato á presidência do país ( caso de Barack Obama). No Brasil, já melhorou bastante, mas não é normal. Lembro de que fui um restaurante em São Paulo e o garçom me perguntou se eu era jogador de futebol.Negro bem sucedido só pode ser pagodeiro ou jogador de futebol?Não!Ele pode ser o que ele quiser. a gente vai morrer e feder lá no mesmo lugar que todo mundo.
- COMO BOM MINEIRO, VOCÊ COSTUMA FICAR NA SUA?- Nunca fui de responder às implicâncias. O cara falava mal de mim, eu ficava chateado na hora e trabalhava em dobro pra calar a boca dele. Agora, mais maduro, cheguei à conclusão de que meu trabalho nunca foi pra esse tipo de gente, que nunca se sentirá satisfeita. Cheguei à conclusão de que há quem não goste mesmo de mim, que não aceita o fato de um rapaz vindo de Uberlândia conseguir fazer sucesso no Brasil e no exterior, receber condecorações. Minha missão é servir o povo com a minha música, com a minha verdade, com muito profissionalismo.- O EPISÓDIO DO CHORO NA CASA BRANCA, ABRAÇADO AO PRESIDENTE BUSH, DURANTE A HOMENAGEM AO ORGULHO HISPÂNICO, EM 2003, TAMBÉM FOI ALVO DE MUITAS CRÍTICAS...- Eu tinha acabado de receber o prêmio de Artista do Ano da Revista Billboard. Como se não bastasse, fui convidado para cantar na Casa Branca! Só acreditei mesmo quando estava lá. Foi um evento muito chique, todo mundo muito comportado. Quando acabei de cantar, o povo todo levantou e me aplaudiu de pé! Não me agüentei de emoção. Nisso, vi o presidente me chamando pra me dar um abraço, quebrando o protocolo. Era um evento totalmente cultural, não tinha nada de político. Cheguei no Brasil dois ou três dias depois e o pessoal estava com essa coisa de que foi um absurdo eu chorar, uma vergonha para o nosso país... Quem conhece a minha história e realmente curte música brasileira entendeu tudo o que tinha acontecido ali. Não preciso provar nada pra ninguém.- VOCÊ SE ACHA UM CARA DE SORTE?- Com certeza. Acho que na carreira artística você tem que ter talento e determinação, mas também muita sorte. Tem muita gente por aí 20 vezes mais competente que eu e que não teve a mesma sorte. Deus me deu essa missão de fazer música, uma oportunidade de ir mais longe.- EM ALGUM MOMENTO HOUVE DESLUMBRAMENTO DE SUA PARTE?- Houve, sem dúvida. Acho que não existe um artista de sucesso nessa vida que já não tenha se deslumbrado. Eu era viciado em trabalho, em obter sucesso profissional. Gravava um disco hoje e amanhã já estava pensando em outro. Morava dentro do estúdio. Minha mãe ia levar quentinhas pra mim, eu amanhecia lá. E sempre fui namorador. No começo, era pura empolgação, a meninada toda ali embaixo do palco gritando “Lindo, lindo!”. É uma baita de uma ilusão, não é? Tinha minhas paquerinhas, me aproximei de muitas fãs, mas acabei percebendo que aquilo ali era pelo simples fato de eu estar cantando, que se não fosse assim, tudo seria diferente. Acho importante dizer que o Alexandre artista é muito diferente daquele do dia-a-dia, que é bem mais tranqüilo. Ser um cara religioso me ajudou a me equilibrar.- VOCÊ JÁ ESTEVE NA LISTA DA REVISTA PEOPLE COMO UMA DAS 25 PESSOAS MAIS BONITAS DA AMÉRICA LATINA. SE ACHA UM HOMEM BONITO, SEXY?- (Risos). Não me acho nenhum modelo de beleza, não. Nessa lista, no meu lugar, colocaria o Tony Garrido. Já fui muito cafona, hoje estou melhorzinho...- MAS VOCÊ JÁ FOI UM DOS HOMENS MAIS DESEJADOS DO BRASIL, E NAMOROU AS MULHERES MAIS DESEJADAS TAMBÉM. ACHA QUE FOI VÍTIMA DE OLHO GORDO?- (Gargalhadas). Sempre tem olho gordo em cima da gente, né? Infelizmente, quando a pessoa se torna notória, seja lá qual for a sua área, ela desperta paixões e também a cobiça, a inveja. É preciso saber conviver com isso, está dentro do ser humano. Algumas pessoas, ao invés de se preocuparem com a sua própria missão, se apegam à vida alheia. Xô, sai pra lá!- DEPOIS DE RELACIONAMENTOS DURADOUROS COM MULHERES FAMOSAS, VOCÊ SURPREENDEU OS FÃS COM A NOTÍCIA DE QUE SERÁ PAI NOVAMENTE SE CASARÁ COM UMA ANÔNIMA E MINEIRA COMO VOCÊ. ELA É A MULHER DA SUA VIDA?- Com certeza absoluta. Sempre fui muito sossegado com esse negócio de relacionamento. Vejo que a galera mais famosa costuma ficar com uma num dia e no outro já está com outra. Gosto muito de namorar. Já tem um ano e dois meses que eu e Sara (Lemos, de 22 anos) nos conhecemos, vamos casar em dezembro. A notícia do bebê (Sara está no sexto mês de gravidez) me encheu de alegria. Já tenho uma filha, de 15 anos, a Ana Caroline, que mora comigo. Mas eu a conheci quando ela tinha 5 aninhos. Então, não vivi essa fase de gestação, de mexer na barriga, tudo isso pra mim é novidade. Estou curtindo demais, parecendo criança. O nome do moleque vai ser Arthur (uma homenagem a Zico, já que Alexandre é flamenguista fervoroso).- VOCÊ SOUBE DA PARTICIPAÇÃO DA SIMONY NO “HOJE EM DIA”, DA RECORD, QUE, POR DINHEIRO, REVELOU TER ABORTADO ESPONTANEAMENTE UM FILHO DE VOCÊS DOIS?- Fiquei muito surpreso quando me contaram. Simony é uma pessoa muito inteligente, mas acho que deveria ter mais respeito pela arte que carrega. Ela foi superinfeliz em comentar. Dinheiro nenhum pagaria uma declaração dessas. Mil reais a mais ou a menos não mudaria nada na vida dela para ela se expor dessa forma. O que ela deveria expor é sua voz, seu talento, que são as coisas mais bonitas que tem. Mas deixo aqui registrado meu grande carinho por ela.- OUTRA SITUAÇÃO DELICADA POR QUE PASSOU FOI O ACIDENTE DE TRÂNSITO EM QUE MORREU UM MOTOCICLISTA. COMO SE SENTE OITO ANOS DEPOIS?- É uma coisa que nunca vai cicatrizar, afinal foi uma pessoa que perdeu a vida. Mas tenho a consciência tranqüila. Foi importante saber quem realmente são as pessoas em quem posso confiar, que realmente querem me ver bem. Aprendo no dia-a-dia que a carreira artística é bonita, mas tem suas armadilhas. O mais importante é ser tranqüilo, encarar de frente minhas responsabilidades.- VOCÊ AINDA TEM SONHOS A REALIZAR?- Falta construir a minha família. Sinto que Deus está me proporcionando isso em breve. Materialmente falando, quero comprar um fusca bem antigo, para dar uma equipada nele. Não me ligo mais em roupas de grife. Tenho tantos ternos, que tenho usado alguns comprados oito anos atrás.